Geração À Rasca
De facto, Portugal está numa situação desesperadora. A decadência está a olhos vistos, é difícil arrumar emprego, cada vez mais portugueses sofrem de depressão e ansiedade, necessitando de medicamentos contra essas moléstias, a indústria não mostra vigor e o Estado está falido. “Crise, crise, crise” é o que se ouve o tempo inteiro, e já não são poucos os portugueses que estão desesperançados com o futuro do país. Li hoje, por alto, que o país precisa de algo como 80 000 000 000 de euros para o financiamento em 2011, englobando aí o Estado, as autarquias, as empresas e outros agentes*. É realmente calamitoso o estado de Portugal.
Agora, também é facto que o actual Governo do PS (José Sócrates à frente) foi reeleito à 27 de Setembro de 2009 por estes mesmos portugueses que agora tanto protestam e pedem a sua demissão, bem como à de toda a classe política. Não é a primeira vez que fazem isso: já em Outubro do ano passado houve uma greve geral contra o governo e suas medidas anti-crise.
Aí é que está o mistério: não sabiam os portugueses que Primeiro-Ministro tinham? Já não conheciam seu estilo, seu programa, seus objectivos? O país já não estava muito mal antes das Legislativas de 2009? José Sócrates já não tinha sido o pivô de casos bastante estranhos então (Face Oculta, U. Independente, Outlet Alcochete)? Por que o reelegeram? Será que as outras opções eram tão ruins que, com tudo o que estava, preferiram ficar mais ou menos na mesma**? Agora que reelegem o homem e sua turma reclamam indignados? O que e que é isso?
Tampouco adianta pedir a demissão de toda a classe política. É uma atitude burra, imatura e desesperada. Políticos, sempre os teremos entre nós, às vezes bons, às vezes ruins. Já tive meu flerte com essa atitude há uns 5 anos atrás, mas depois vi a bobagem que era.
Por essas e por outras, tenho reservas em relação à tal “geração à rasca”: são mais destrutivos e desesperados do que propositivos e inteligentes. Portugal não precisa de ácido, de desesperança e de anarqia, mas sim de propostas alternativas inteligentes, sensatas, além de pessoas e meios para as concretizar.
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(*) Cito com pouca exatidão porque o faço de memória. Vou procurar depois as informações mais precisas.
(**) “Mais ou menos” porque, pelo menos, retiraram do PS a maioria absoluta de que ele desfrutava há tempos e deram ao CDS/PP, o partido conservador mais expressivo de Portugal, o terceiro lugar em númeo de votos, o que já é grande melhora.