No dia 21, cheguei à Fortaleza, às 19h44min horas, no horário local. Tive de vir para tirar meu visto de estudante, ir a 2 casamentos da família, Natal, aniversário... Mas em janeiro retorno à Coimbra. Durante esse tempo, porém, não deixarei de escrever cá o que me passou, bem como qualquer coisa relacionada à Coimbra ou Portugal. Estas Cartas ainda levarão muito tempo até deixarem de ser escritas.
quinta-feira, novembro 30, 2006
segunda-feira, novembro 06, 2006
Rememorando II
Os dias em que efectuei minha matrícula na Universidade foram de enorme apreensão. Preenchi formulários e mais formulários e esperei um considerável tempo numa fila para completar a matrícula e saber quais cadeiras devo cursar no ano lectivo 2006/2007. Ao cabo, a senhora que me atendeu (com muita paciência, visto a diferença entre os sistemas português e brasileiro) discriminou-me as disciplinas e (a parte mais terrível) deu-me o valor das propinas. Para meus leitores brasileiros: propina aqui não tem nada a ver com corrupção, suborno. É simplesmente a taxa de matrícula. A Universidade de Coimbra, embora seja uma universidade pública, é paga, como sói ocorrer com as demais universidades públicas europeias.
O valor foi alto, bastante alto, a meu ver, para apenas 3 disciplinas. Mais tarde soube que esse valor é fixo, independentemente do número de cadeiras. Pude parcelar o montante, mas resolvi falar antes com meu pai do que firmar um compromisso tão importante sem consultá-lo. Afinal, é ele quem me sustenta por aqui ainda.
Aquilo produziu em mim uma tristeza enorme. Havia vindo do Brasil com tanta expectativa, tantos sonhos e, de repente, parecia que tudo iria por água abaixo. Senti-me meio que roubado pela universidade à qual tanto admiro. Senti que o que tanto ambicionei fugia-me pelas mãos, e eu nada poderia fazer. A possibilidade de voltar logo ao Brasil, de mão vazias, era real e me entristecia muito. Olhava o Pátio das Escolas, a Via Latina, a Torre e pensava: “Que é isso? Se acabou tudo? Será um fracasso o que tanto sonhei?”. Tinha até o dia seguinte para dar uma resposta definitiva à universidade.
Procurei por um telefone pago, pois não poderia ligar à cobrar para casa, visto que meu pai trabalhava àquela hora. Tive de ir aos correios. Telefonei, expus-lhe minhas angústias. Ele considerou a possibilidade de eu voltar ao Brasil para terminar o curso e fazer um mestrado em Coimbra, algo que já tínhamos considerado mas que eu preferiria ver como pertencente apenas ao terreno das hipóteses. Em todo caso, disse-me que faria as contas e responderia-me mais tarde, por e-mail.
Fui pagar o telefonema, de menos de 8 minutos. Quanto? 13,50 €!!! NUNCA PAGUEI TÃO CARO POR UM TELEFONEMA!!! Nem em Palma de Mallorca! Aquilo desorientou-me mais ainda, entristecendo-me ainda mais.
Caminhei para casa meio que sem vontade. Acho que minhas pernas é que para lá me levavam. A sensação era de uma imensa derrota.
Fazia contas e mais contas sobre as despesas que teria e pensava na propina e pensava no sacrifício de meu pai. Isso doía-me a tal ponto que cheguei a considerar uma insanidade enorme, uma crueldade minha insistir nisso. Talvez o melhor mesmo fosse voltar de vez.
Tentei concentrar-me na leitura, mas minha mente não se prendia à palavras, mas somente à valores, cifras em euro, conversões para o real, dólares por trocar, datas, compromissos… um verdadeiro contabilista, num orçamento que havia assumido feições de uma luta terrível. Não resisti e, tarde da noite, liguei para o meu pai, de um telefone público.
Bondoso como ele só, ele confirmou: pode fazer a matrícula, fiz as contas e tudo dará certo. Não se preocupe, apenas procure ser feliz e não gaste além da conta. O importante é que você esteja bem. Foi um alívio enorme para o meu coração angustiado! Ainda fiquei com receio das possíveis privações que poderia ele passar, mas ele disse-me para que não se preocupasse com isso. De tal forma que, no dia seguinte, efectuei a matrícula, nas seguintes disciplinas:
*Direito Romano e História do Direito Português;
*Economia e Finanças Públicas e;
*Direito Internacional Público e Europeu.
Cursei DIP e Direito Romano em Salamanca, de tal forma que pedi para ser delas dispensado. A senhora disse-me que eu poderia depois apresentar um comprovante de que havia cursado essas disciplinas, mas eu teria de cursá-las de novo na UC. De tal forma, fui posto como aluno do 2º ano. Ao fim deste ano académico, todavia, posso fazer alguns exames ad hoc que me mandarão direto para o 4º ano. Sem dúvida alguma que farei isso.
Já estava de matrícula efectuada. Já era um estudante de Coimbra!
O valor foi alto, bastante alto, a meu ver, para apenas 3 disciplinas. Mais tarde soube que esse valor é fixo, independentemente do número de cadeiras. Pude parcelar o montante, mas resolvi falar antes com meu pai do que firmar um compromisso tão importante sem consultá-lo. Afinal, é ele quem me sustenta por aqui ainda.
Aquilo produziu em mim uma tristeza enorme. Havia vindo do Brasil com tanta expectativa, tantos sonhos e, de repente, parecia que tudo iria por água abaixo. Senti-me meio que roubado pela universidade à qual tanto admiro. Senti que o que tanto ambicionei fugia-me pelas mãos, e eu nada poderia fazer. A possibilidade de voltar logo ao Brasil, de mão vazias, era real e me entristecia muito. Olhava o Pátio das Escolas, a Via Latina, a Torre e pensava: “Que é isso? Se acabou tudo? Será um fracasso o que tanto sonhei?”. Tinha até o dia seguinte para dar uma resposta definitiva à universidade.
Procurei por um telefone pago, pois não poderia ligar à cobrar para casa, visto que meu pai trabalhava àquela hora. Tive de ir aos correios. Telefonei, expus-lhe minhas angústias. Ele considerou a possibilidade de eu voltar ao Brasil para terminar o curso e fazer um mestrado em Coimbra, algo que já tínhamos considerado mas que eu preferiria ver como pertencente apenas ao terreno das hipóteses. Em todo caso, disse-me que faria as contas e responderia-me mais tarde, por e-mail.
Fui pagar o telefonema, de menos de 8 minutos. Quanto? 13,50 €!!! NUNCA PAGUEI TÃO CARO POR UM TELEFONEMA!!! Nem em Palma de Mallorca! Aquilo desorientou-me mais ainda, entristecendo-me ainda mais.
Caminhei para casa meio que sem vontade. Acho que minhas pernas é que para lá me levavam. A sensação era de uma imensa derrota.
Fazia contas e mais contas sobre as despesas que teria e pensava na propina e pensava no sacrifício de meu pai. Isso doía-me a tal ponto que cheguei a considerar uma insanidade enorme, uma crueldade minha insistir nisso. Talvez o melhor mesmo fosse voltar de vez.
Tentei concentrar-me na leitura, mas minha mente não se prendia à palavras, mas somente à valores, cifras em euro, conversões para o real, dólares por trocar, datas, compromissos… um verdadeiro contabilista, num orçamento que havia assumido feições de uma luta terrível. Não resisti e, tarde da noite, liguei para o meu pai, de um telefone público.
Bondoso como ele só, ele confirmou: pode fazer a matrícula, fiz as contas e tudo dará certo. Não se preocupe, apenas procure ser feliz e não gaste além da conta. O importante é que você esteja bem. Foi um alívio enorme para o meu coração angustiado! Ainda fiquei com receio das possíveis privações que poderia ele passar, mas ele disse-me para que não se preocupasse com isso. De tal forma que, no dia seguinte, efectuei a matrícula, nas seguintes disciplinas:
*Direito Romano e História do Direito Português;
*Economia e Finanças Públicas e;
*Direito Internacional Público e Europeu.
Cursei DIP e Direito Romano em Salamanca, de tal forma que pedi para ser delas dispensado. A senhora disse-me que eu poderia depois apresentar um comprovante de que havia cursado essas disciplinas, mas eu teria de cursá-las de novo na UC. De tal forma, fui posto como aluno do 2º ano. Ao fim deste ano académico, todavia, posso fazer alguns exames ad hoc que me mandarão direto para o 4º ano. Sem dúvida alguma que farei isso.
Já estava de matrícula efectuada. Já era um estudante de Coimbra!