Na edição de 24 de outubro do corrente ano de
A Cabra, o jornal universitário de Coimbra, há uma série de reportagens sobre uma possível união entre Portugal e Espanha. O Iberismo, parece ressurgir.
Não demorarei em explicar seu desenvolvimento histórico, mas, em resumo, iberismo é a idéia compartilhada por alguns espanhóis e portugueses defensores de uma união política entre os dois países. É uma idéia já bastante antiga, polêmica e complexa, que retorna à pauta.
Numa pesquisa divulgada pelo semanário espanhol
Sol, 27,7% dos portugueses declararam que gostariam de unir-se à Espanha. A notícia foi recebida no país de Cervantes com um misto de estranheza e perplexidade.
Os motivos, segundo analistas, é a estabilidade e o crescimento económico espanhol, atractivos para uma melhora de vida. A Espanha é hoje, junto com a Irlanda, um dos países europeus mais prósperos, ao passo que Portugal passa por uma crise econômica e um aumento da inflação, aumento esse causado principalmente pelo advento do euro no país. Mas a economia não é, obviamente, o único factor: Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta, aponta uma “diluição nacionalista do lado português”. Os portugueses estariam perdendo o amor por sua nacionalidade, caindo num estado de descrença em relação ao próprio país. O jornalista Baptista-Bastos chega mesmo a dizer: “Considero-me um cidadão ibérico”.
Mas não só entre os portugueses o iberismo volta a manifestar-se: a revista
Tiempo de Hoy aponta que 45% dos espanhóis aceitariam a união com Portugal.
Entretanto, de acordo com Santiago Petschen, professor de Relações Internacionais da Universidade Complutense de Madrid, cerca de “95% dos espanhóis sabem tanto de Portugal quanto do Sri Lanka”. É difícil imaginar a união entre dois países com relações de amor e ódio e que ainda por cima demonstrem tal grau de desconhecimento um do outro.
Numa época em que a Espanha enfrenta a agitação do ETA e as turbulências provocadas pela aprovação do novo Estatuto da Catalunha, causa imensa surpresa a idéia de unir Portugal e Espanha como um só país. Um senhor idoso espanhol, entrevistado pelo canal Tele5, da Espanha, expressou bem a surpresa com esse iberismo da parte lusitana, ao dizer: "Já não entendo nada! Os bascos querem separar-se a toda hora e agora os portugueses querem juntar-se à nos?”.
Não nego que esta é uma questão deveras complexa para ser devidamente analisada por mim, pois, apesar de ter morado por quase 1 ano em Espanha, agora estar em Portugal e ser bastante interessado nestes dois países, não julgo ter conhecimentos suficientes para posicionar-me firmemente sobre o assunto. Entretanto, pelo que conheço de Política, História e Península Ibérica, digo: a união entre os dois países me parece um enorme erro. Portugal está certo em admirar o crescimento espanhol. Pena que, ao invés de buscarem entender as causas de tal prosperidade, muitos lusos caiam numa melancolia e num antipatriotismo estéril. Se estudarem as razões de Espanha ser hoje um dos países mais prósperos do continente, verão as reformas liberais, a desburocratização, a valorização do trabalho, a defesa da propriedade privada, e tudo o mais que faz os países prosperarem.
Já Portugal ainda estar a viver sob um Estado grande, dirigista, muito burocrático. Portugal, infelizmente, não passou pelo choque liberal pelo qual passou a Espanha depois da Transição. Essas reformas fizeram com que hoje a Espanha tenha uma
posição invejável no ranking mundial de liberdade econômica e trouxeram consigo a atual prosperidade espanhola. Além disso, os portugueses estão mais conformistas, menos motivados ao trabalho e ao estudo do que os espanhóis. É impossível prosperar assim.
Portanto, portugueses, mãos à obra! Não será unindo-se à Espanha que atrairão para terra de Camões a prosperidade espanhola, mas sim com trabalho, estudo e perseverança. Portugal tem muitas condições de crescer e se tornar um país riquíssimo, mais do que fora em seus dias de maior glória. Para tal, urge trabalhar, aperfeiçoar-se, desesdadualizar-se. É preciso coragem, força, e isso os portugueses têm, como já o demonstraram no passado. Chega de estatismo, de crenças em megaestados! Portugal e Espanha, separados sempre!